26.4.07

0005 - Mézinha de Péssimistas

Mézinha de Péssimistas

Queixas-te que nada te sabe bem?
Continuas, Amigo, co’as mesmas manias?
Barafustas, cospes, injurias –
Paciência e coração se não contêm.
Dou-te um conselho, Amigo: Vê se um dia
Consegues engolir um sapo bem gordinho,
De repente e sem olhar um instantinho!
Vais ver como te passa essa dispepsia!

Friedrich Nietzsche

25.4.07

0004 - re-toma

deves julgar-me a décima ingénua!

31.7.06

0003 -

devia fingir-te corpo erguido entre o pó das coisas poisadas para o esquecimento.
e assim, sossegadamente, ver-te indistinto na confusão da prateleira.

18.5.06

0002 - Poema sumário

Poema sumário das tabernas de Lisboa

Rua se São Marçal n.º 56, rua de Campo de
Ourique n.º 39, rua de São Bento n.º
432, rua da Cruz dos Poiais n.º 25ª. Calçada
do Combro n.º 38B, rua da Atalaia n.º 13,
rua de São Miguel n.º 20, rua da
Rosa n.º 123. Travessa do Conde de Soure n.º 7,
travessa dos Remolares n.º 21, rua do
Jardim do Tabaco n.º 3, rua da Regueira n.º 40,
rua das Escolas Gerais n.º 126, rua de Santa
Catarina n.º 28. Largo do Chafariz de Dentro n.º 23,
rua Sampaio Bruno n.º 25, travessa de São
José n.º 27, beco dos Toucinheiros n.º 12-A. Rua
Cidade de Rabat n.º 9, travessa do Alcaide
N.º 15-B, calçada de São Vicente n.º 12,
rua das Flores n.º 6, travessa da Espera n.º 54.

Praça das Flores n.º 5.

Manuel de Freitas

5.5.06

0001 - Sobre o poema

Sobre o Poema


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Hélder

2.5.06

0000 - Declaração de intenções

«DIÁRIOS» (EXTRATOS)
1822-1824 (
1)

(1) Em 3 de Setembro de 1822, No Louroux (com vinte e quatro anos) escreve:

«Ponho em prática o projecto tantas vezes concebido de escrever um Diário. O que mais me importa é não perder de vista que o escrevo só para mim próprio; espero portanto ser verdadeiro; se assim suceder, tornar-me-ei sem dúvida também melhor. Estas folhas censurarão a minha instabilidade. Começo-o com a melhor das disposições



Delacroix, Eugène, DIÁRIO (EXTRACTOS), página 53

Clássicos de Bolso, Editorial Estampa, 1979